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HidrogĂȘnio no Brasil: quais as vantagens?

  • Foto do escritor: Vittoria Melro
    Vittoria Melro
  • 20 de fev. de 2023
  • 8 min de leitura

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Como mostrado pelo Christian FontĂŁo, o Brasil possui reservas de hidrogĂȘnio natural em quatro estados. AlĂ©m disso, como explica a Laila Rava, a aprovação do Projeto de Lei n˚725/2022, pode apresentar uma nova fase para a produção do hidrogĂȘnio no Brasil por estabelecer parĂąmetros e metas para a mesma. Mesmo assim, Ă© importante analisar as oportunidades e desafios para alavancar a produção no paĂ­s.


Produção do HidrogĂȘnio Verde

Como explicou a Laila Rava, o hidrogĂȘnio tem vĂĄrias cores que sĂŁo determinadas pela forma de sua produção. No entanto, considerando a necessidade de se reduzir a emissĂŁo de gases de efeito estufa, o hidrogĂȘnio gera um maior benefĂ­cio se ele for rosa – produzido a partir da energia nuclear – ou verde – produzido a partir da eletrĂłlise da ĂĄgua utilizando fontes de energia renovĂĄvel. NĂŁo obstante, tecnologias nucleares nĂŁo sĂŁo tĂŁo bem-vistas no paĂ­s (Silva, 2022), sendo pouco usuais, representando pouco mais de 2% da matriz elĂ©trica do paĂ­s (BEN, 2021). Em contraste, as fontes renovĂĄveis compĂ”em 82,9% da matriz elĂ©trica (Ibid, 2021).


Para o desenvolvimento de um mercado de hidrogĂȘnio verde, Ă© indispensĂĄvel uma anĂĄlise que leve em consideração dois custos fundamentais: as despesas de capital (Capex), que se referem aos investimentos em maquinĂĄrios e equipamento, e as despesas operacionais (Opex), que sĂŁo as despesas diĂĄrias (Castro et al., 2022). A eletrĂłlise da ĂĄgua consiste na divisĂŁo de molĂ©culas da ĂĄgua a partir de uma corrente contĂ­nua. Um eletrolisador possui dois eletrodos, um positivo (cĂĄtodo) e um negativo (Ăąnodo) dentro de ĂĄgua pura, que tem sua condutividade aumentada com a adição de um eletrĂłlito. Quando uma corrente Ă© aplicada, o gĂĄs do hidrogĂȘnio (H2) se desloca para o eletrodo do cĂĄtodo e o oxigĂȘnio em direção ao Ăąnodo, quebrando a molĂ©cula da ĂĄgua (H2O).


De maneira resumida, em uma planta de eletrĂłlise abastecida por energia renovĂĄvel, o Capex se refere ao eletrolisador, e o Opex ao custo da energia, manutenção da planta e do custo da ĂĄgua. Dentro do Opex, o preço da energia renovĂĄvel equivale a 70% do custo total do hidrogĂȘnio verde (Ibid., 2022). Consequentemente, a oferta de energia renovĂĄvel a um preço acessĂ­vel Ă© fundamental para a avaliação econĂŽmica.


Por conta da oferta de energia renovĂĄvel, a AmĂ©rica Latina tem uma grande vantagem competitiva para se tornar lĂ­der na produção de hidrogĂȘnio verde tanto para exportação quanto para consumo interno (IAE, 2021). Em 2021, a AgĂȘncia Internacional de Energia RenovĂĄvel (IRENA) estimou que o hidrogĂȘnio verde pode, atĂ© 2050, chegar a menos de US$1,5/kg. No caso do Brasil, hĂĄ um imenso potencial de recursos energĂ©ticos que Ă© somado Ă s vantagens da regiĂŁo. O extenso territĂłrio recebe grandes nĂ­veis de raios solares de alta intensidade. AlĂ©m disso, em algumas regiĂ”es, em especial no Nordeste, hĂĄ altas quantidades de ventos constantes que nĂŁo mudam bruscamente de intensidade e direção, sendo, portanto, ideal para a geração de energia eĂłlica. Com essas caracterĂ­sticas, o Brasil possui um fator de capacidade de produção maior do que a mĂ©dia mundial: a mĂ©dia brasileira Ă© superior a 40% e atinge em torno de 60% e 70% (Castro et al., 2021). Enquanto isso, a mĂ©dia mundial Ă© por volta de 25%. Fora isso, o paĂ­s Ă© o segundo maior produtor de energia hidrelĂ©trica (Ibid., 2021). Sendo assim, percebe-se que o Brasil possui um grande potencial com o hidrogĂȘnio verde, uma vez que jĂĄ tem um grande mercado desenvolvido de energia renovĂĄvel que tende a crescer.


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Apesar da existĂȘncia de uma rede de energia renovĂĄvel, os eletrolisadores continuam a ser um desafio. Atualmente, hĂĄ trĂȘs tipos de eletrolisadores: os alcalinos, os do tipo PEM (membrana de troca de prĂłtons), e os do tipo SOE (membrana de Ăłxido sĂłlido). De acordo com Viola (2015), os eletrolisadores alcalinos sĂŁo atualmente a tecnologia mais desenvolvida e disponĂ­vel no mercado, que possui uma capacidade de produção entre 1 e 500NmÂł com eficiĂȘncia de 75%. Os eletrolisadores PEM tambĂ©m estĂŁo disponĂ­veis no mercado, porĂ©m seu custo Ă© maior e a produção de hidrogĂȘnio menor, variando entre 0.29 e 30 NmÂł/h (Silva, 2022). Quando utilizados, sĂŁo geralmente associados a painĂ©is fotovoltaicos (Ibid, 2022). Os altos custos dos eletrolisadores, porĂ©m, ainda podem representar um obstĂĄculo, que poderĂĄ ser superado com investimentos externos. Recentemente, o Presidente Lula encontrou-se com o chanceler alemĂŁo, Olaf Scholz, para discutir questĂ”es relacionadas Ă  AmazĂŽnia e a energias renovĂĄveis (Soares, 2023). No encontro, Scholz destacou o grande potencial do hidrogĂȘnio verde no Brasil (Ibid., 2023). AlĂ©m disso, no dia 7 de fevereiro ocorre o primeiro leilĂŁo da polĂ­tica H2 Global, que busca incentivos Ă s importaçÔes do hidrogĂȘnio verde (Ibid.).


Outra forma de se produzir hidrogĂȘnio na qual o Brasil pode se destacar Ă© a reforma a vapor. Atualmente, 40% do hidrogĂȘnio Ă© produzido a partir da reforma a vapor do gĂĄs natural por ser a mais barata (SĂĄ et al., 2014). PorĂ©m, em sua produção, diĂłxido de carbono Ă© liberado. Esse processo tambĂ©m pode ser utilizado a partir da queima do bioetanol. Esse combustĂ­vel Ă© produzido a partir da fermentação da biomassa, a qual, no Brasil, tem origem principalmente na cana-de-açĂșcar. Apesar de haver emissĂ”es, este processo Ă© considerado neutro, uma vez que a biomassa em crescimento absorve o diĂłxido de carbono emitido (Abreu e Bortoni, 2022). De acordo ao Sindicato da IndĂșstria de Fabricação do Álcool do Estado da ParaĂ­ba (Oliveira, 2022), para produzir 1 kg de hidrogĂȘnio, sĂŁo necessĂĄrios 7,6 kg de etanol. Com uma indĂșstria jĂĄ consolidada na produção do biocombustĂ­vel nas regiĂ”es Centro-Oeste, Sudeste e Nordeste, o Brasil tem uma grande oportunidade para alavancar a produção de hidrogĂȘnio (Ibid., 2022).


Dessa forma, nota-se que o Brasil tem um grande potencial na produção do hidrogĂȘnio pelo baixo Opex, jĂĄ que hĂĄ uma grande disponibilidade de recursos naturais e certa experiĂȘncia no ramo das energias renovĂĄveis. Mesmo assim, grandes investimentos devem ser feitos para alavancar a produção. Investimentos externos, estimulados por polĂ­ticas pĂșblicas, podem ser uma solução para este desafio. Em breve, o HGPol lançarĂĄ sua pesquisa que resume e analisa polĂ­ticas nacionais relacionadas diretamente e indiretamente com a produção de hidrogĂȘnio verde.

Armazenamento

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Um dos maiores desafios para a produção do hidrogĂȘnio Ă© o seu armazenamento e transporte. O grande problema Ă© que o hidrogĂȘnio tem uma densidade de volume muito baixa. Por exemplo, quando comparado Ă  gasolina, vemos que a energia em 1 kg de hidrogĂȘnio equivale a energia em 2.75kg de gasolina, e que a energia em 1 litro de hidrogĂȘnio equivale a energia em 0.27 litro de gasolina. Sendo assim, o transporte de hidrogĂȘnio Ă© difĂ­cil pois necessita de um grande volume.


Para facilitar seu transporte, o hidrogĂȘnio deve entĂŁo ser armazenado a fim de comprimir o seu volume. Atualmente, hĂĄ trĂȘs principais mĂ©todos de armazenamento: fĂ­sica, adsorção e quĂ­mica (Abreu e Bortoni, 2022). Primeiramente, a forma fĂ­sica comprime o hidrogĂȘnio em estruturas geolĂłgicas, tanques ou de forma liquefeita (Ibid., 2022). O hidrogĂȘnio em forma lĂ­quida tem a maior densidade energĂ©tica, tendo sido reduzido em 853 vezes, facilitando o seu transporte viĂĄvel (Silva, 2022). NĂŁo obstante, esse mĂ©todo necessita de muita energia e tem aproximadamente 40% de energia perdida no processo (Moradi, 2019).


Na adsorção, a molĂ©cula do hidrogĂȘnio se liga a matĂ©rias com alta ĂĄrea superficial especĂ­fica (Abreu e Bortoni, 2022). Exemplos sĂŁo os polĂ­meros porosos e os metal-organic frameworks (MOFs) (Ibid.).


Por fim, no armazenamento quĂ­mico, o hidrogĂȘnio pode ser armazenado com outros lĂ­quidos e gases na forma de amĂŽnia, metano e etanol (Abreu e Bortoni, 2022). Assim como no hidrogĂȘnio lĂ­quido, esse mĂ©todo reduz o volume do hidrogĂȘnio. AlĂ©m disso, produzir hidrogĂȘnio e armazenĂĄ-lo na forma de amĂŽnia Ă© uma grande oportunidade para o Brasil. A amĂŽnia Ă© o principal insumo na produção de fertilizantes e o paĂ­s Ă© o maior consumidor do composto (Oliveira, 2022). Em 2018, 80% dos fertilizantes consumidos foram importados. Como consequĂȘncia, a variação dos preços internacionais impacta diretamente os custos dos fertilizantes, que afetam 30% do custo dos grĂŁos (Ibid., 2022). Dessa forma, o Brasil tem uma grande oportunidade de produzir e armazenar hidrogĂȘnio para reduzir os custos de produção no agronegĂłcio.

Transporte


Considerando o grande potencial do Brasil para produzir hidrogĂȘnio, o paĂ­s pode utilizar o hidrogĂȘnio para consumo interno e para exportaçÔes. O hidrogĂȘnio pode ser transportado de duas formas: por gasodutos e pela forma de amĂŽnia.

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A publicação da Lei do GĂĄs (n̊ 14.134/2021) teve como objetivo aumentar a competição do gĂĄs no paĂ­s e reduzir o preço para o consumidor final. Como consequĂȘncia dessa lei, Ă© de se esperar que a malha de gasodutos aumente no paĂ­s, sendo assim uma oportunidade para o transporte de hidrogĂȘnio (Abreu e Bortoni, 2022). AlĂ©m disso, Laila explica que o PL n ̊725/2022, estabelece a injeção de hidrogĂȘnio verde em gasodutos (5% a partir de janeiro de 2032, e 10% a partir de 2050). PorĂ©m, o transporte de hidrogĂȘnio por gasoduto Ă© economicamente vantajoso para distĂąncias de, no mĂĄximo, 1.500 km (das Dores, 2021). Fora isso, o custo da construção de um gasoduto Ă© grande, necessitando, assim, que haja uma demanda alta na atualidade e no longo prazo (Guillet, 2011).


Para a exportação, a melhor alternativa seria a partir da amĂŽnia. Como jĂĄ comentado, a produção de amĂŽnia nacionalmente pode ser um grande benefĂ­cio para a agricultura brasileira. Sendo assim, o paĂ­s possui um estĂ­mulo a se tornar um produtor mundial de hidrogĂȘnio verde.

ConclusĂŁo


O Brasil dispĂ”e de diversas vantagens e oportunidades para alavancar a produção do hidrogĂȘnio verde. Primeiramente, o paĂ­s usufrui de diversos recursos naturais que podem ser utilizados para a produção do hidrogĂȘnio verde. AlĂ©m disso, jĂĄ possui um parque industrial para a produção do hidrogĂȘnio a partir do etanol.


O transporte e armazenamento do hidrogĂȘnio, porĂ©m, continuam sendo desafios significativos. De acordo com a IEA (2019), caso o hidrogĂȘnio percorra um longo caminho, os custos de distribuição podem chegar a ser trĂȘs vezes maior que o custo de produção. Dessa forma, ambos possuem um papel essencial para determinar a competitividade do hidrogĂȘnio (Oliveira, 2022). Mesmo assim, o crescimento da malha de gasodutos e o benefĂ­cio para estimular produção de amĂŽnia no paĂ­s podem trazer uma grande vantagem para a ampliação do hidrogĂȘnio verde no Brasil.

ReferĂȘncias


Castro, N., n.d. Desenvolvimento do mercado de hidrogĂȘnio verde na AmĂ©rica Latina e no Brasil. Portal HidrogĂȘnio Verde. URL https://www.h2verdebrasil.com.br/noticia/desenvolvimento-do-mercado-de-hidrogenio-verde-na-america-latina-e-no-brasil/ (accessed 2.6.23).

Castro, N., Leal, L.M., Freitas, J.V., Oliveira, L., 2022. Desenvolvimento do mercado de hidrogĂȘnio verde na AmĂ©rica Latina e no Brasil.


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Guillet, J., 2011. How to get a pipeline built: Myth and reality, in: Russian Energy Security and Foreign Policy. Routledge.

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Moradi, R., Groth, K.M., 2019. Hydrogen storage and delivery: Review of the state of the art technologies and risk and reliability analysis. International Journal of Hydrogen Energy 44, 12254–12269. https://doi.org/10.1016/j.ijhydene.2019.03.041

Oliveira, R.C. de, 2022. TD 2787 - Panorama do hidrogĂȘnio no Brasil. TD 1–59. https://doi.org/10.38116/td2787

SĂĄ, L.R.V. de, Cammarota, M.C., Ferreira-LeitĂŁo, V.S., 2014. Produção de hidrogĂȘnio via fermentação anaerĂłbia - aspectos gerais e possibilidade de utilização de resĂ­duos agroindustriais brasileiros. QuĂ­m. Nova 37, 857–867. https://doi.org/10.5935/0100-4042.20140138


Silva, T. de A., 2022. O hidrogĂȘnio na geração distribuĂ­da : desafios e possibilidades (bachelorThesis).

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Viola, L. UNESP, 2015. Estudo da produção de hidrogĂȘnio eletrolĂ­tico a partir de fontes eĂłlica, solar e hidrelĂ©trica. Aleph 68 f.


 
 
 
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